Performances arte/educativas intermidiáticas
O Corpo Estereotipado
Título:
As distinções de gênero no corpo infantil As distinções de práticas corporais, comportamentos cênicos e plástica dos personagens de acordo com o gênero na Educação/Infantil.
Problemática/Conflito
Como professora de teatro da Educação Infantil atualmente no ensino privado – que possui uma proposta disciplinarizante desta primeira etapa da educação, da qual discordo fundamentando-me na teoria histórico-cultural – tenho me deparado constantemente na turma Sol, composta por crianças de 4 a 5 anos de idade, com situações dramáticas propostas em sala que são questionadas e as vezes recusadas pelas crianças visto que instigam comportamentos, vestimentas e práticas corporais para as personagens que fogem aos padrões culturais machistas que distinguem condutas de acordo com o gênero.
Atualmente estamos trabalhando com o conceito de respeito, visto que uma das crianças trouxe a questão para a roda de conversa da aula de teatro: “O que é respeito?”. O conceito vem sendo desenvolvido por meio da experiência trazida pelo jogo dramático, suscitado muitas vezes através da utilização de elementos cênicos, como chapéus, óculos, peças simples de roupas, sapatos, etc. Eis que durante a realização das dramatizações, as crianças definem a utilização destes objetos de acordo com suas referências culturais de conduta para os gêneros, por exemplo: meninos não podem utilizar o sapato de flores; o óculos verde não pode ser do personagem da Marvel Hulk pois tem formato de borboletas; o óculos todo preto deve ser utilizado apenas por meninos; e principalmente meninos não podem fazer papel de meninas, e vice-versa. Estas definições culturais estabelecem corpos estereotipados que boicotam as brincadeiras e ações dramáticas das crianças, que se impedem de experimentar novas atitudes, novas vestimentas e possibilidades corporais criando também estereótipos expressivos.
Onde se ritualiza o conflito/problema que precisa ser colocado em questão?
Na Escola Nuvem, uma instituição privada de ensino de artes para crianças e de educação infantil regular, localizada em Goiânia-Goiás. A turma escolhida é a turma Sol, composta por crianças de 4 a 5 anos de idade.
Explique como será criado pedagogicamente o conflito para estabelecer um drama social para o aluno buscar e (re)significar
O conflito será criado por meio da descoberta e experimentação de elementos cênicos diversos, que dentro dos estereótipos de gênero já identificados nas relações cotidianas com as crianças, designam ações específicas conforme o gênero da personagem a ser realizada. Os elementos cênicos estarão guardados em uma mala, e a medida em que forem descobertos pelas crianças, pensaremos coletivamente nos personagens que poderiam utilizá-lo, e de que forma. A partir desta descoberta os conflitos serão suscitados, e por meio da experimentação e de questionamentos realizados por mim enquanto educadora-educanda, se colocará em evidência o drama social em questão. Com o auxílio do notebook, poderemos identificar imagens de personagens diversos que utilizam os elementos cênicos inseridos na mala, permitindo com que as crianças encarem o drama social das distinções corporais de gênero presentes na cultura ocidental.
Justificar teoricamente como os conceitos “etnocentrismo e relativização” podem contribuir neste processo.
O conceito de etnocentrismo cunhado pela antropologia diz sobre as determinações que colocam a cultura de um único povo, de uma etnia hegemônica no centro, isto é, como aquela que deve ser seguida e formadora de outras condutas culturais. Nesta perspectiva todas as outras culturas são estudadas, observadas e analisadas conforme uma visão pautada em valores de outra cultura, sempre em comparação de valores. Assim, para tratar das questões de estereótipos corporais de acordo com o gênero que pairam sobre as brincadeiras e escolhas das crianças não é possível realizar uma análise da situação a partir de uma perspectiva adultocêntrica, e mais do que isso, a partir de uma perspectiva machista predominante no mundo ocidental, visto que está visão sequer identificará, e portanto, não questionará este tipo de estereótipo. Faz-se mister enquanto professores promover uma visão crítica acerca deste tema, e para tanto é preciso relativizar. Ao relativizar, o educador-educando se conscientiza do contexto cultural do educando-educador, agindo, observando e analisando a partir da perspectiva deste último. É importante salientar que sempre estaremos permeados pela nossa cultura e que ela nunca será completamente esquecida, mas ela pode ser ampliada por meio de um olhar sensível capaz de identificar as crenças do outro quanto tão importantes quanto as minhas. Quando o educador se abstêm da ação de relativizar age com pré-conceito em relação às culturas de seus educandos.
Apresentar recorte intermidiático que utilizará
Utilizaremos o teatro de formas animadas por meio do urso Zé, diferentes elementos cênicos trazidos por ele em uma mala, elementos que fazem referência aos personagens que perpassam o cotidiano midiático das crianças. A medida que estes personagens forem elencados, mostraremos este personagem utilizando um notebook e a internet, e buscando com as crianças novos personagens que também possam utilizar aqueles elementos.
Justifique como a Abordagem Triangular pode ser uma importante alça teórica para a PERFORMANCE arte/educativa
A abordagem triangular ancorada nas três ações mentais: contextualizar, ler e fazer, fundamenta a intervenção performática arte/educativa descrita acima pois que levanta por meio da curiosidade, da experiência e da manipulação de diferentes objetos e adereços cênicos, o contexto cultural das crianças: que personagens perpassam pelo seu cotidiano e como elas identificam a partir de sua realidade cultural outros personagens que podem utilizar estes mesmos elementos? A partir desta leitura contextualizada, em diálogo com a visualização de alguns destes personagens pelo notebook, as crianças poderão por meio da experiência de vestir estes elementos, experimentar na ação dramática fazer personagens diferentes que aqueles elencados em um primeiro momento, questionando assim estes estereótipos corporais de gênero por meio da arte/educação crítica.
Qual linguagem artística que utilizará na ação performática?
A principal linguagem artística utilizada nesta intervenção performática será o teatro, por meio do drama, visto ser esta uma aula de teatro, e por permitir que crianças nesta faixa etária possam expressar cenicamente sua cultura, suas pulsões internas e ressignificá-las por meio da brincadeira orientada. Por ser esta minha área de formação enquanto professora licenciada e enquanto atriz, é o campo em que melhor me situo e aquele que em que tenho maior fundamentação para o trabalho.
Qual ação performática será proposta ao conflito identificado?
A ação performática proposta ao conflito dos estereótipos corporais e cênicos de gênero levantados pelas crianças de 4 a 5 anos da turma Sol, será a de realizar um teatro de formas animadas com o personagem do urso Zé, que trará uma mala secreta para as crianças. A mala estará cheia de elementos cênicos diversos, que serão retirados um a um neste momento de descoberta, e cada criança poderá escolher aquele elemento que mais lhe chamar a atenção para compor um personagem cênico que participará de uma ação dramática coletiva. Antes da escolha pessoal de cada um dos elementos, dialogaremos, a medida que vamos manipulando cada um deles, acerca de: que personagens as crianças identificam que poderiam utilizar cada um dos elementos retirados. Os personagens conhecidos provenientes do contexto midiático das crianças serão visualizados com o auxílio do computador, e a partir de questionamentos e experimentações no corpo destes elementos, as crianças poderão construir novos personagens que resinificarão estes estereótipos corporais culturais.
Apresente os objetivos (geral e específicos) da intervenção performática arte/educativa intermidiática proposta
GERAL
– Permitir com que as crianças de 4 a 5 anos da turma Sol da Escola Nuvem consigam perceber alguns dos estereótipos corporais de gênero presentes em seu contexto intermidiático, e como estes estereótipos podem boicotar a criação de personagens na realização de jogos dramáticos, bem como suas relações na vida cotidiana.
ESPECÍFICOS
- Identificar os estereótipos de gênero presentes no contexto das crianças;
- Identificar as personagens midiáticas que salientam estes estereótipos elencados nas falas das crianças;
- Questionar estes estereótipos de gênero por meio da dramatização e plástica do personagem;
- Evidenciar o drama social em questão;
- (Re)significar estes estereótipos de gênero na dramatização e experimentação destes elementos;
- Ampliar o repertório cultural das crianças por meio da brincadeira;
- Permitir a experimentação de todas as crianças dos diferentes elementos cênicos presentes na dramatização, independentemente do gênero.
Qual ação performática será proposta ao conflito identificado?
A turma Sol possui nas aulas de teatro uma mascote, um urso de pelúcia chamado Zé, que por meio do teatro de formas animadas conversa com as crianças trazendo diferentes propostas para serem discutidas e experienciadas em sala por meio da dramatização. Para suscitar a problemática supracitada, o urso Zé dará as crianças uma mala, cheia de elementos cênicos diferentes que podem contribuir com a construção de personagens diversos em uma dramatização, como: sapato de flores, óculos de diferentes cores, chapéus, cachecol, tranças de cabelo comprido. A mala será aberta juntamente com as crianças, que tirarão um elemento por vez. Antes que elas escolham qual elemento queiram utilizar, iremos discutir por meio do diálogo e manipulação dos objetos que tipo de personagem utilizaria cada um daqueles elementos. Cada vez que um estereótipo corporal fosse assinalado, eu como orientadora do grupo elencaria questões que rebatessem estas determinações, para que as crianças pudessem promover novas soluções, por exemplo: Que personagens utilizariam esta trança? Por quê? Que outros personagens poderiam usar? Um homem poderia usar? Uma criança poderia usar? Por quê?. A pedagogia do questionamento juntamente com a materialização das ideias na manipulação destes objetos promoveriam às crianças meios de (re)significar sua cultura e suas crenças, se permitindo novas possibilidades que transcendem o espaço e tempo da aula de teatro.
Fale sobre a experiência na construção da PERFORMANCE solicitada
A experiência de construção desta performance intermidiática arte/educativa foi tranquila, sem grandes surpresas, visto ser este um caminho muito comum de trabalho em teatro da educação infantil. O trabalho pedagógico com a primeira infância exige maior performatividade do educador-educando, seja qual for sua área de formação, que para tanto precisa ser crítico e relativizar suas ações constantemente, a partir de uma visão que tenha a criança como referência primeira. Como respeitar o ponto de vista da criança sem relativizar? Como relativizar sem identificar o contexto cultural da criança, trabalhando assim os dramas sociais que a circundam? Esta atividade foi interessante para ligar as ações executadas aos conceitos antropológicos que os fundamentam e que podem enriquecer nossa prática pedagógica cotidiana.
Explique: se na elaboração desta atividade, você se reconheceu, como um performer/educador, bem como se você conseguiu observar, criticamente, suas ações pedagógicas. Ou seja, a atividade contribuiu ou não para refletir sobre sua prática pedagógica.
A atividade contribuiu sim para que eu me identificasse como um educador performer, mas eu sempre me pautei em um termo semelhante, utilizado por Biage Cabral, Ingrid Koudela, Flávio Desgranges, etc.: professor-personagem, específico do campo teatral. Esta atividade me fez pensar sobre estas duas referências, as semelhanças e diferenças entre elas. Concluo por fim que todo professor é um performer, mas que a consciência disso poderá promover positivamente suas propostas pedagógicas. A atividade contribuiu para refletir sobre a minha prática pedagógica no que concerne aos estereótipos corporais de gênero que já vinha identificando nas falas e ações das crianças.