Construção da Autoaprendizagem

Tema

As influências dos consumos midiáticos digitais das crianças de 5 a 9 anos na suas performances e corporeidades cotidianas, no que tange a possíveis estereótipos de gênero que possam estar sendo disseminados.

 

Local

Meios digitais, e se necessário presencialmente no Instituto Tecnológico de Goiás em Artes Basileu França (ITEGOABF)

 

Para quem ensinar?

B I e BII – Turma do curso de Arte/Educação, composta por crianças de 5 e 6 anos de idade, no turno matutino.

 

O que ensinar?

Consciência corporal nas performances cotidianas das crianças de 5 a 6 anos, para proporcionar criticidade em relação aos estereótipos de movimentação podem estar sendo difundidos por meio de ídolos, modelos e personagens provenientes de consumos midiáticos, que compartilham ideias e comportamentos que são imitados acriticamente pelas crianças. Tais consumos digitais podem estar difundido estereótipos de movimentação e comportamento em relação a dicotomias de gêneros binários, afetando as performances corporais cotidianas das crianças do curso de Arte/Educação do ITEGO em artes Basileu França. Destarte este plano de autoaprendizagem digital tentará promover experiências pedagógicas digitais autônomas (mas sempre mediadas pela família ou um adulto responsável) que visem a consciência crítica das crianças em suas performances corporais cotidianas.

 

Para que ensinar?

O plano de autoaprendizagem tem como intuito despertar a consciência crítica das crianças acerca das gestualidades que compõe suas performances corporais cotidianas, que podem estar contaminadas pela influência de conteúdos midiáticos digitais consumidos, que muitas vezes disseminam estereótipos machistas de gênero, ou mesmo estereótipos corporais outros, que carreguem em si significados que podem não estar sendo compreendidos nas imitações das crianças. Esta proposição surgiu a partir de um exercício realizado no primeiro dia de aula com as turmas do curso de Arte-Educação do ITEGO EM Artes Basileu França, que consistia em realizar um movimento corporal qualquer e simultaneamente dizer as sílabas do seu nome. Durante este exercício foi possível perceber que as crianças que se identificavam como figuras do sexo feminino fizeram movimentos mais sinuosos, alguns provenientes do ballet, enquanto os meninos trouxeram em seus movimentos referencias de lutas e coreografias de clipes do YouTube. A atividade assinalada foi repetida na primeira aula do segundo semestre de 2018, demonstrando que as crianças estavam mais livres na criação de movimentos mais diversificados, porém um movimento apareceu repetidamente entre as turmas: com os braços esticados, atravessá-los contra o quadril, de um lado e depois o outro, conforme a imagem 1 abaixo:

Imagem 1: Algumas crianças do curso de arte/educação do ITEGO em Artes Basileu França fazendo um movimento de dança proveniente dos seus consumos midiáticos, para ser o movimento que representa o seu nome.
 
 

Quando questionei as crianças acerca do significado do movimento, apenas disseram que na música de funk as pessoas faziam aquilo. Outros disseram que o YouTuber Lucas Neto (dono do sétimo canal mais seguido no Brasil 1 ) fazia o movimento com frequência. Perguntei o que significava o movimento, e rindo, as crianças disseram que não sabiam, apenas imitavam. Destarte faz-se mister que as crianças se conscientizem das referencias por trás da gestualidade que permeia seu cotidiano construindo e reproduzindo significados, e que, como demonstraram os exercícios acima, corrobora para a construção contínua de sua identidade. A partir desta autoaprendizagem as crianças poderão questionar os movimentos corporais disseminados pelas mídias, bem como as dicotomias de gênero muito difundidas na cultura ocidental, podendo assim se libertar de definições alheias e ter autonomia para se movimentarem independentemente destes padrões.

 

Como ensinar?

Por meio de uma proposta de autoaprendizagem em teatro que tenha como premissa a formação de cidadãos autocríticos, promovendo o questionamento acerca das performances corporais cotidianas que podem estar permeadas por estereótipos de gênero provenientes de conteúdos midiáticos consumidos no ambiente digital. Daniel Gohn diz em sua tese de doutorado que “auto-aprendizagem é um conceito chave para o entendimento de meios tecnológicos para a aprendizagem e o domínio de um instrumento ou conhecimento musical” (p. 14). Mudando a afirmativa para o 1 Os irmãos YouTubers Lucas Neto e Felipe Neto tem os seus canais de vlogs em sétimo e quarto lugar respectivamente, entre os mais seguidos no Brasil. Fonte: The Social Blade, disponível em: <https://socialblade.com/youtube/top/country/br>. Acesso em: 18 ago. 2018. contexto a qual se propõe este plano de autoaprendizagem, o teatro, mais especificamente a gestualidade corporal, a mesma ideia se aplica. Mediante o explanado, a metodologia utilizada para a autoaprendizagem será uma virtualização da atividade realizada em sala.

 

Plano de Autoaprendizagem

Devido a faixa etária das crianças, 5 e 6 anos de idade, as atividades de autoaprendizagem aqui descritas dependem da participação de um familiar ou de um professor mediador que as auxiliará nos primeiros acessos – visto que a maioria destas crianças ainda não foi alfabetizada, e participará de algumas ações. Serão utilizadas estratégias de gamificação para estimular o aprendizado das crianças, e o lúdico será levantado por meio de uma história criada pela professora Yasmin, disponibilizada por meio de um vídeo que acompanhará cada vídeo-aula. A história falará sobre uma aventura de uma criança, que encontra vários personagens durante a história. Estes personagens serão descritos, porém quem desenhará seus corpos, definirá o gênero das personagens, e dirá seus nomes serão as crianças, por meio de desenhos destes corpos. Ao final de cada história será pedido que as famílias respondam com a criança um pequeno questionário de duas questões, além de enviar uma fotografia das imagens para o meu endereço de e-mail ou número de Whatsapp, pois os desenhos serão disponibilizados para as crianças. Por meio destas questões as crianças poderão refletir sobre os corpos escolhidos, o gênero das personagens, e quais são suas referências, bem como as famílias também poderão se perguntar de onde provém estas escolhas, podendo assim ressingificá-las. A história será disponibilizada por meio de um vídeo de contação, e também em PDF, caso a família queira ler a história com a criança. O enredo trará a descrição de duas personagens, sem dizer o gênero delas, nem o nome, apenas características físicas e de carácter: 1. Criança esperta, forte e corajosa que morava em uma casa com a família. 2. Pessoa bonita, delicada e bondosa que mora em um castelo.

 

1a Ação de autoaprendizagem: Que corpo tem este personagem?

Nesta primeira etapa apenas a primeira personagem aparece, conforme descrito: PRIMEIRA PARTE Era uma vez uma criança muito esperta, muito forte, muito corajosa e também muito bondosa. Essa criança morava com sua família em uma casa no meio de uma pequena cidade, e todos os dias, quando acordava, ia até o rio Anil que percorria a cidade, tomar um banho e buscar água para sua família. O rio Anil era muito bonito! Tinha a água limpa, que corria na cor azul anil, levando água para todos que moravam na cidade. Um belo dia porém, esta criança corajosa, esperta e também muito forte, acordou, foi até o rio buscar água e tomar o seu banho matinal, porém, chegando lá descobriu que o rio tinha secado. Todos da vila ficaram muito tristes. E começaram a se perguntar: “E agora? O que vamos fazer?” “Como iremos viver sem água?” “Quem poderá nos ajudar?” A criança, que era muito esperta, corajosa e forte, disse: “Fiquem tranquilos, eu vou descobrir onde está a água do Rio Anil”. A criança esperta, forte e corajosa resolveu percorrer o caminho que subia o Rio Anil, que agora estava seco igual farofa, para tentar descobrir onde a água tinha ido parar. A criança passou pela cidade, pelos campos de trigo, subiu a montanha, até que viu uma coisa impressionante! Ao final da contação da primeira parte da história, a criança deverá realizar um desenho online de como acha que é a “Criança esperta, forte e corajosa”. Juntamente com a família a criança deverá responder um pequeno questionário que disponibilizará a próxima parte da história: 1. Qual o nome que você deu para a “criança 2. 3. esperta, forte e corajosa”? Por quê? Por quê você desenhou a “criança esperta, forte e corajosa” desta forma, com estas roupas, este cabelo, etc.? Este personagem se parece com algum outro de outra história, desenho animado, filme ou vídeo que você já tenha visto? Qual?

 

2a Ação de autoaprendizagem Que corpo tem este personagem?

Na segunda etapa aparece a segunda personagem aparece, conforme descrito: SEGUNDA PARTE A criança esperta, forte e corajosa passou pela cidade, pelos campos de trigo, subiu a montanha, até que viu uma coisa impressionante! Uma construção gigantesca, feita de pedras, que era tão alta que parecia tocar as nuvens do céu. Era um castelo! A criança esperta, forte e corajosa viu então que atrás do castelo o Rio Anil estava sendo barrado por uma grande muralha, que impedia que a água continuasse correndo até chegar em sua cidade. Vendo aquilo, a criança esperta, forte e corajosa resolveu entrar o no castelo para descobrir o que estava acontecendo. Lá dentro, encontrou sentada em um trono uma pessoa muito bonita, muito delicada, e também muito bondosa. A criança esperta, forte e corajosa chegou perto da pessoa, e perguntou: “Com licença, eu moro na cidade banhada pelo rio Anil. Nós estamos sem água, porque a muralha deste lugar está impedindo que a água chegue até nós.” A pessoa bonita, delicada e bondosa, respondeu: “Sim, foi eu quem mandou fechar o rio. Descobri que os habitantes da sua cidade não andam cuidando da água que sai do meu castelo. A sua cidade joga lixo no rio, e por isso ela tem ficado suja e fedida. Você acha isto certo?” A criança esperta, forte e corajosa pensou naquilo, e viu que a pessoa bonita, delicada e bondosa sentada no trono do castelo tinha razão. Então disse que resolveria o problema: “Você tem razão, existem pessoas que jogam o lixo no rio Anil, mas sem a água não poderemos sobreviver. Você que é uma pessoa delicada e bondosa, não poderia nos dar uma última chance? Prometo que a cidade vai cuidar melhor do rio, agora que sabem como é ficar sem ele.” A pessoa bonita, delicada e bondosa se levantou da cadeira, olhou para a criança esperta, forte e corajosa com muita seriedade, e disse: Ao final da contação da segunda parte da história, a criança deverá realizar um desenho online de como acha que é a “A pessoa bonita, delicada e bondosa”. Juntamente com a família a criança deverá responder o mesmo questionário para ter acesso à última parte da história: 1. 2. 3. Qual o nome que você deu para a “criança esperta, forte e corajosa”? Por quê? Por quê você desenhou a “criança esperta, forte e corajosa” desta forma, com estas roupas, este cabelo, etc.? Este personagem se parece com algum outro de outra história, desenho animado, filme ou vídeo que você já tenha visto? Qual?

 

3a Ação de autoaprendizagem Feedback A terceira e última parte da história será:

A pessoa bonita, delicada e bondosa se levantou da cadeira, olhou para a criança esperta, forte e corajosa com muita seriedade, e disse que devido à sua coragem, ela abriria os muros, e a água do rio Anil voltaria para a cidade, mas que esta seria a última chance deles. A criança esperta, forte e corajosa agradeceu a pessoa sentada no trono do castelo, e resolveu voltar até sua cidade, nadando pelo rio. Chegando lá contou a todos o que tinha acontecido, e os habitantes da cidade começaram a se organizar para não poluir o rio Anil, que voltou a passar pela cidade. Então todos disseram: “Obrigada criança esperta, forte e corajosa!” O arremete da história vem com um comentário final a ser enviado pela família, que dirá se a criança gostou ou não da história, e se houve reflexão acerca das razões para os personagens escolhidos. Os desenhos serão utilizados nas aulas presenciais e colocados em uma galeria no site.

 
 

Referências

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